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O MITO DO
JESUS HISTÓRICO I
JESUS NO TALMUDE
Hayyim ben Yehoshua
Muito interesse tem sido expresso nos media Judaicos
acerca da actividade dos "Judeus por Jesus" e outras organizações
missionárias que saem dos seus limites para converterem os Judeus ao
Cristianismo. Infelizmente, muitos Judeus estão deficientemente
equipados para fazerem face aos missionários Cristãos e aos seus
argumentos. Espero que este artigo contribua para remediar esta
situação.
Quando se se encontra com missionários Cristãos, é
importante que baseemos os nossos argumentos em factos correctos.
Argumentos baseados em factos incorrectos podem facilmente ser
desmascarados e acabarem por fortalecer os argumentos dos
missionários.
É pena que tantos bem intencionados professores
de Estudos Judaicos tenham inconscientemente ajudado os
missionários, ensinando aos alunos Judeus informações incorrectas
acerca das origens do Cristianismo. Posso recordar a história que me
foi ensinada acerca de Jesus na escola Judaica que
frequentei:
"Jesus foi um rabi famoso do primeiro século,
cujo nome Hebreu foi Rabbi Yehoshua. O seu pai foi um carpinteiro
chamado José e o nome da sua mãe era Maria. Maria engravidou antes
de ter casado com José. Jesus nasceu num estábulo em Belém durante
um censos Romano. Jesus cresceu em Nazaré e tornou-se um rabi
erudito. Viajou por todo o Israel pregando que as pessoas se deviam
amar. Algumas pessoas pensaram que ele era o Messias e ele não negou
isso, o que deixou os outros rabis muito zangados. Ele causou tanta
controvérsia que o Governador Romano Pôncio Pilatos o mandou
crucificar. Foi enterrado num túmulo, e mais tarde o seu corpo foi
dado como desaparecido, dado que provavelmente teria sido roubado
pelos seus discípulos."
Alguns anos depois de ter sido
ensinado esta aparentemente inocente história, comecei a
interessar-me pelas origens do Cristianismo e decidi ler algo mais
sobre o "famoso Rabbi Yehoshua". Para grande desânimo meu, descobri
que não havia qualquer evidência histórica deste Rabbi Yehoshua. A
reivindicação de que Jesus foi um rabi chamado Yehoshua e a de que o
seu corpo tinha sido provavelmente roubado acabaram por se tornar
puras conjecturas. O resto da história não era mais que uma versão
diluída da história que os Cristãos acreditam ser parte da religião
Cristã mas que não é suportada por nenhuma fonte histórica legítima.
Não havia absolutamente nenhuma evidência histórica que Jesus, José
ou Maria tenham existido, já não mencionando que José tenha sido
carpinteiro ou que Jesus tenha nascido em Belém e vivido em
Nazaré.
Apesar da falta de evidência da existência de Jesus,
muitos Judeus fizeram o trágico erro de assumir que a história do
Novo Testamento era largamente correcta e tenham tentado refutar o
Cristianismo experimentando racionalizar os vários milagres que
alegadamente ocorreram durante a vida de Jesus e após a sua morte.
Numerosos livros foram escritos que tentam esta aproximação ao
Cristianismo. Esta aproximação, no entanto, é desesperadamente
falhada e é, de facto, perigosa pois encoraja a crença no Novo
Testamento.
Quando os Israelitas foram confrontados com a
adoração de Baal, não aceitaram cegamente os antigos mitos Semíticos
Ocidentais como História. Quando os Macabeus foram confrontados com
a religião Grega, eles não aceitaram cegamente a mitologia Grega
como História. Porque é que tantos Judeus modernos aceitam cegamente
a mitologia Cristã? A resposta a esta questão parece ser que muitos
Cristãos não sabem onde a distinção entre História estabelecida e
crenças Cristãs reside, tendo passado a confusão deles para a
comunidade Judaica. Passando uma vista de olhos pela secção de
religião numa livraria local, recentemente deparei com um livro que
pretendia ser uma biografia objectiva de Jesus. Acabou por ser nada
mais que um sumário da história usual do Novo Testamento. Até
incluía pretensões que os milagres de Jesus tinham sido
testemunhados mas que explicações racionais para eles poderiam
existir. Muitos livros de História escritos pelos Cristãos têm uma
aproximação similar. Alguns autores Cristãos sugerirão que talvez os
milagres não sejam completamente históricos, mas eles todavia seguem
a história do Novo Testamento usual. A ideia de que havia um Jesus
histórico real firmou-se tanto na sociedade Cristã que os Judeus que
vivem no mundo Cristão começaram a aceitar cegamente esta crença
porque nunca a viram ser seriamente desafiada.
Apesar da
difundida crença em Jesus, permanece o facto de que não existe um
Jesus histórico. Para se perceber o que se quer dizer com o "Jesus
histórico", considere o Rei Midas da Mitologia Grega. A história em
que o Rei Midas transformava tudo o que tocava em ouro é claramente
absurda, mas apesar disto sabemos que houve um verdadeiro Rei Midas.
Arqueólogos escavaram o seu túmulo e encontraram os seus restos
esqueléticos. Os Gregos que contaram a história de Midas e o seu
toque dourado pretendiam claramente que o relacionassem com o Midas
real. Por isso, apesar da história do toque dourado ser ficcional, a
história é acerca de alguém cuja existência é dada como um facto – o
"Midas histórico". No caso de Jesus, no entanto, não há uma única
pessoa cuja existência seja um facto e que seja também objecto das
histórias de Jesus, isto é, não há nenhum Jesus
histórico.
Quando confrontados com um missionário Cristão,
deve-se imediatamente apontar que a existência de Jesus não foi
provada. Quando os missionários argumentam, usualmente apelam mais
para as emoções do que para a razão, e tentarão que fiques
embaraçado ao negares a historicidade de Jesus. A resposta habitual
é qualquer coisa do género de "Negar a existência de Jesus não é tão
tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?".
Uma variação popular desta resposta, usada especialmente contra os
Judeus é "Negar a existência de Jesus não é como negar o
Holocausto?". Deve-se então apontar que há amplas fontes históricas
a confirmar a existência de Júlio César, da Rainha Isabel ou de
qualquer outro que for nomeado, enquanto que não existe evidência
correspondente para Jesus.
Para se ser perfeitamente directo,
deve-se ter tempo para fazer alguma investigação sobre as
personagens históricas mencionadas pelos missionários e apresentar
fortes evidências da sua existência. Ao mesmo tempo deve-se desafiar
os missionários a mostrar evidência similar da existência de Jesus.
Deve-se apontar que embora a existência de Júlio César ou da Rainha
Isabel, etc. seja universalmente aceite, o mesmo já não acontece com
Jesus. No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo,
o Xintoísmo, o Taoísmo e o Confucionismo, Jesus é considerado como
mais uma personagem da mitologia religiosa ocidental, a par com
Thor, Zeus e Osíris. A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas
os que acreditam consideram que ele é uma das muitas encarnações do
deus Hindu Vishnu. Os muçulmanos certamente acreditam em Jesus, mas
rejeitam a história do Novo Testamento e consideram que ele foi um
profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam explicitamente que
ele tenha sido crucificado.
Em resumo, não há uma história de
Jesus que seja uniformemente aceite pelo mundo inteiro. É este facto
que põe Jesus num nível diferente para personalidades históricas
estabelecidas. Se os missionários usarem o "argumento Holocausto",
deve-se apontar que o Holocausto está bem documentado e que existem
numerosos relatos de testemunhas oculares. Deve-se apontar que a
maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram semeadores de
ódio anti-semítico com credenciais fraudulentas. Por outro lado,
milhões de gente honesta na Ásia, que fazem a maioria da população
mundial, não conseguiram ser convencidos pela história Cristã de
Jesus na medida que não há nenhuma evidência constrangedora da sua
autenticidade. Os missionários insistirão que a história de Jesus é
um facto bem estabelecido e irão argumentar que existem "bastantes
evidências que comprovam isso". Deve-se então insistir em ver essa
evidência e recusar-se a ouvir enquanto eles não a
apresentarem.
Se Jesus não foi uma personagem histórica, de
onde veio toda a história do Novo Testamento em primeiro lugar? O
nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é
derivado da palavra hebraica neitzer, que significa broto ou rebento
– um claro símbolo Messiânico. Já havia pessoas chamadas Notzrim no
tempo do Rabbi Yehoshua ben Perachyah (c. 100 A.C.) Apesar de os
modernos Cristãos afirmarem que o Cristianismo só começou no
primeiro século depois de Cristo, é claro que os Cristãos do
primeiro século em Israel se consideravam como sendo a continuação
do movimento Notzri, que existia à cerca de 150 anos. Um dos mais
notáveis Notzrim foi Yeishu ben Pandeira, também conhecido como
Yeishu ha-Notzri. Os estudiosos do Talmude sempre mantiveram que a
história de Jesus começou com Yeishu. O nome Hebreu para Jesus
sempre foi Yeishu, e o Hebreu para "Jesus de Nazaré" sempre foi
"Yeishu ha-Notzri" (o nome Yeishu é um diminutivo do nome Yeishua, e
não de Yehoshua.) É importante notar que Yeishu ha-Notzri não é um
Jesus histórico, uma vez que o Cristianismo moderno nega alguma
conexão entre Jesus e Yeishu e, além do mais, partes do mito de
Jesus são baseadas em outras personagens históricas além de
Yeishu.
Sabemos pouco sobre Yeishu ha-Notzri. Todos os
trabalhos modernos que o mencionam são baseados em informação
retirada do Tosefta e do Baraitas – escritos feitos ao mesmo tempo
do Mishna mas não contidos neste. Porque a informação histórica
respeitante a Yeishu é tão danosa para o Cristianismo, muitos
autores Cristãos (e também muitos Judeus) tentaram desacreditar esta
informação e inventaram muitos argumentos engenhosos para a
explicarem. Muitos dos seus argumentos são baseados em mal
entendidos e citações erróneas do Baraitas, e para se ter uma imagem
exacta de Yeishu devem-se ignorar os autores Cristãos e examinar o
Baraitas directamente.
A insuficiente informação contida no
Baraitas é a seguinte: o Rabi Yehoshua ben Perachyah, num dado
momento, repeliu Yeishu. As pessoas pensavam que Yeishu era um
feiticeiro, considerando que ele tinha levado os Judeus a
desencaminharem-se. Como resultado de acusações feitas contra ele
(os detalhes das quais não são conhecidos, mas provavelmente
envolveriam alta traição), Yeishu foi apedrejado e o seu corpo foi
pendurado na véspera da Passagem. Antes disto, ele foi exibido
durante 40 dias com um arauto que ia à sua frente anunciando que ele
iria ser apedrejado e chamando por gente para avançar e o
defenderem. Todavia, nada foi trazido em seu favor. Yeishu tinha
cinco discípulos: Mattai, Naqai, Neitzer, Buni e Todah.
No
Tosefta e no Baraitas, o nome do pai de Yeishu é Pandeira ou
Panteiri. Estes são formas Hebreu-Aramaicas de um nome Grego. Em
Hebreu, a terceira consoante do nome é escrito quer com um dalet,
quer com um tet. Comparando com outras palavras Gregas
transliteradas para Hebreu mostra que o original Grego devia ter
tido um delta como sua terceira consoante, e assim a única
possibilidade para o nome Grego do pai é Panderos. Como os nomes
Gregos eram comuns entre os Judeus durante a época dos Macabeus, não
é necessário assumir que ele era Grego, como alguns autores
fizeram.
A relação entre Yeishu e Jesus é corroborada pelo
facto de que Mattai e Todah, os nomes de dois dos discípulos de
Yeishu, serem as formas originais hebraicas de Mateus e Tadeu, nomes
de dois dos discípulos de Jesus na mitologia Cristã.
Os
primeiros Cristãos estavam também cientes do nome "ben Pandeira"
para Jesus. O filósofo pagão Celso, que foi famoso pelos seus
argumentos contra o Cristianismo, reivindicou em 178 d.C. que tinha
ouvido a um Judeu que a mãe de Jesus, Maria, se tinha divorciado do
seu marido, um carpinteiro, depois de se ter provado que ela era uma
adúltera. Ela vagueou em vergonha e deu à luz Jesus em segredo. O
seu verdadeiro pai era um soldado chamado Pantheras. De acordo com o
escritor Cristão Epifânio (c. 315 – 403 d.C.), o apologista Cristão
Origen (c. 185 – 254 d.C) tinha afirmado que "Panther" era o apelido
de Jacob, o pai de José, o padrasto de Jesus. É de notar que a
afirmação de Origen não é baseada em nenhuma informação histórica. É
puramente uma conjectura cujo objectivo era explicar a história de
Pantheras de Celso. Essa história é também não histórica. A
reivindicação de que o nome da mãe de Jesus era Maria e a pretensão
de que o seu marido era um carpinteiro é tirada directamente das
crenças Cristãs. A afirmação de que o pai verdadeiro de Jesus se
chamava Pantheras é baseada numa tentativa incorrecta de reconstruir
a forma original de Pandeira. Esta reconstrução incorrecta foi
provavelmente influenciada pelo facto de o nome Pantheras ser
encontrado entre os soldados Romanos.
Porque é que as pessoas
acreditavam que a mãe de Jesus se chamava Maria e o seu marido se
chamava José? Porque é que os não Cristãos acusavam Maria de ser uma
adúltera enquanto que os Cristãos acreditavam que ela era virgem?
Para responder a essas questões ter-se-á de examinar algumas das
lendas à volta de Yeishu. Não se pode esperar obter a verdade
absoluta sobre as origens do mito de Jesus, mas podemos mostrar que
existem alternativas razoáveis para a aceitação cega do Novo
Testamento.
O nome José para o nome do padrasto de Jesus é
fácil de explicar. O movimento Notzri era particularmente popular
entre os Judeus Samaritanos. Enquanto que os Fariseus estavam à
espera de um Messias que seria um descendente de David, os
Samaritanos queriam um Messias que viesse restaurar o reino nortenho
de Israel. Os Samaritanos enfatizavam a sua descendência parcial das
tribos de Efraim e Manassés, que descendiam do José da Tora. Os
Samaritanos consideravam-se como sendo "Bnei Yoseph", i.e., "filhos
de José", e como acreditavam que Jesus tinha sido o seu Messias,
teriam assumido que era um "filho de José". A população de língua
Grega, que tinha pouco conhecimento de Hebreu e das verdadeiras
tradições Judaicas, poderia facilmente ter mal entendido este termo
e presumir que José era o nome verdadeiro do pai de Jesus. Esta
conjectura é corroborada pelo facto que de acordo com o Evangelho
segundo S. Mateus, o pai de José se chama Jacob, tal como o do José
da Tora. Mais tarde, outros Cristãos que seguiam a ideia de que o
Messias seria um descendente de David, tentaram seguir o curso de
José até David. Chegaram a duas genealogias contraditórias para ele,
uma registrada no Evangelho segundo S. Mateus e a outra no Evangelho
segundo S. Lucas. Quando a ideia de que Maria era virgem
desenvolveu, o mítico José foi relegado para a posição de ser
simplesmente o seu marido e o padrasto de Jesus.
Para se
perceber de onde a história de Maria veio, teremos que nos virar
para outra personagem histórica que contribuiu para o mito de Jesus,
e que é ben Stada. Toda a informação que temos sobre ben Stada advém
novamente do Tosefta e do Baraitas. Há ainda menos informação sobre
ele do que sobre Yeishu. Algumas pessoas acreditavam que ele tinha
trazido encantamentos do Egipto num corte da sua carne, outros
pensavam que ele era um louco. Ele era um trapaceiro e foi apanhado
pelo método da testemunha escondida, sendo apedrejado em
Lod.
No Tosefta, ben Stada é chamado ben Sotera ou ben
Sitera. Sotera parece ser a forma Hebreu-Aramaica do nome Grego
Soteros. As formas "Sitera" e "Stada" parecem ter surgido como más
interpretações e erros de soletração ( yod substituindo vav e o
dalet a substituir reish ).
Como havia tão pouca informação
acerca de ben Stada, muitas conjecturas surgiram sobre quem ele era.
É conhecido da Gemara que ele era confundido com Yeishu. Isto
provavelmente resultou do facto de que ambos foram executados por
ensinamentos traidores e estarem associados à feitiçaria. As pessoas
que confundiam ben Stada com Yeishu tiveram que explicar o porquê
dele também ser chamado ben Pandeira. Como o nome "Stada" se parece
com a expressão aramaica "stat da", que significa "ela
desencaminhou-se", pensou-se que "Stada" se referia à mãe de Yeishu
e que ela era uma adúltera. Consequentemente, as pessoas começaram a
pensar que Yeishu era o filho ilegítimo de Pandeira. Estas ideias
são de facto mencionadas na Gemara e são provavelmente mais antigas.
Como ben Stada viveu nos tempos Romanos e o nome Pandeira se
assemelhava com o nome Pantheras encontrado entre os soldados
Romanos, assumiu-se que Pandeira tinha sido um soldado Romano
estacionado em Israel. Isto certamente explica a história mencionada
por Celso.
O Tosefta menciona um caso famoso de uma mulher
chamada Miriam bat Bilgah que casou com um soldado Romano. A ideia
de que Yeishu tinha nascido de uma mulher judia que tinha tido um
caso com um soldado Romano provavelmente resultou da confusão entre
a mãe de Yeishu e esta Míriam. O nome "Míriam" é, claro, a forma
original do nome "Maria". É de facto conhecido através do Gemara que
algumas das pessoas que confundiam Yeishu com ben Stadta acreditavam
que a mãe de Yeishu era "Míriam, a cabeleireira de
mulheres".
A história de que Maria (Míriam), mãe de Jesus,
era uma adúltera, era certamente não aceitável para os primeiros
Cristãos. A história da virgem que deu à luz foi provavelmente
inventado para limpar o nome de Maria. Os primeiros Cristãos não
inventaram isto do nada. Histórias de virgens que davam à luz eram
comuns nos mitos pagãos. As seguintes personagens mitológicas eram
tidas como nascidas de virgens fecundadas divinamente: Rómulo e
Remo, Perseu, Zoroastro, Mitra, Osíris-Aion, Agdistis, Attis,
Tammuz, Adónis, Korybas, Dioniso. As crenças pagãs em uniões entre
deuses e mulheres, não considerando se elas eram virgens ou não, é
ainda mais comum. Acreditava-se que muitas personagens da mitologia
pagã eram filhas de pais divinos e mães humanas. A crença Cristã de
que Jesus era o filho de Deus nascido de uma virgem é típica de uma
superstição Greco-Romana. O filósofo Judeu Phílon de Alexandria (c.
25 A.C. – 50 D.C.), avisou contra a superstição bastante espalhada
da crença de uniões entre homens deuses e mulheres humanas que
retornavam a mulher a um estado de virgindade.
O deus Tammuz,
adorado pelos pagãos no norte de Israel, era dado como nascido da
virgem Myrrha. O nome Myrrha assemelha-se superficialmente a
"Maria/Míriam", e é possível que esta particular história de uma
virgem que deu à luz tenha influenciado a história de Maria mais que
as outras. Tal como Jesus, Tammuz foi sempre chamado Adon, que
significa "Senhor" (A personagem Adónis da mitologia Grega é baseada
em Tammuz.) Como veremos mais tarde, a relação entre Jesus e Tammuz
vai mais longe que isto.
A ideia de que Maria tinha sido uma
adúltera nunca desapareceu completamente na mitologia Cristã. Em vez
disso, a personagem de Maria foi dividida em duas: Maria, a mãe de
Jesus, que se acreditava ser uma virgem, e Maria Magdalena, que se
acreditava ser uma mulher de má fama. A ideia de que a personagem de
Maria Madalena é também derivada de Míriam, a mítica mãe de Yeishu,
é corroborado pelo facto de o estranho nome "Magdalena" se
assemelhar claramente ao termo aramaico "mgadala nshaya", que
significa "cabeleireira de mulheres". Como se mencionou
anteriormente, acreditava-se que a mãe de Yeishu era "Míriam, a
cabeleireira de mulheres". Porque os Cristãos não sabiam o que o
nome "Magdalena" significava, mais tarde conjecturaram que isso
significava que ela tinha vindo de um lugar chamado Magdala, a oeste
do lago Kinneret. A ideia das duas Marias assentava bem na forma
pagã de pensamento. A imagem de Jesus sendo seguido pelas duas
Marias lembra bastante Dioniso sendo seguido por Deméter e
Perséfone.
A Gemara contém uma lenda interessante acerca de
Yeishu, que tenta ilucidar o Beraitas, que diz que o Rabi Yehoshua
ben Perachyah repeliu Yeishu. A lenda afirma que quando o rei
Asmoneu Alexandre Janeus estava a matar os Fariseus, o Rabi Yehoshua
e Yeishu fugiram para o Egipto. Quando voltaram, chegaram a uma
estalagem. A palavra aramaica "aksanya" tanto significa "estalagem"
como "estalajadeiro(a)". O Rabi Yehoshua observou o quão bela a
"arksanya" era (referindo-se à estalagem.) Yeishu (referindo-se à
estalajadeira) replicou que os olhos dela eram muito estreitos. O
Rabi Yehoshua zangou-se bastante com Yeishu e excomungou-o. Yeishu
pediu que o perdoasse muitas vezes, mas o Rabi Yehoshua não o
perdoava. Uma vez, quando o Rabi Yehoshua estava a recitar a Shema,
Yeihsu veio ter com ele. O Rabi fez-lhe um sinal de que devia
esperar. Yeishu não entendeu e pensou que estava a ser rejeitado
novamente. Ele zombou do Rabi Yehoshua fazendo um tijolo e
adorando-o. O Rabi Yehoshua disse-lhe para ele se arrepender mas ele
recusou, dizendo que tinha aprendido com ele que a alguém que peca e
leva muitos a pecar não é dada a oportunidade de se
arrepender.
Esta história, que começa com os eventos da
estalagem, é bastante semelhante com outra lenda em que o
protagonista não é o Rabi Yehoshua mas o seu discípulo Yehuda ben
Tabbai. Nesta lenda, Yeishu não é nomeado. Pode-se então questionar
se Yeishu foi realmente ao Egipto ou não. É possível que Yeishu
tenha sido confundido com algum outro discípulo do Rabi Yehoshua ou
do Rabi Yehuda. A confusão pode ter resultado de Yeishu ser
confundido com ben Stada, que tinha regressado do Egipto. Por outro
lado, Yeishu poderia ter mesmo fugido para o Egipto e regressado, e
isto, por seu turno, poderia ter contribuído para a confusão entre
Yeishu e ben Stada. Qualquer que seja o caso, a crença que Yeishu
tenha fugido para o Egipto para escapar à matança de um rei cruel
parece ser a origem da crença Cristã de que Jesus e a sua família
fugiram para o Egipto para escapar ao Rei Herodes.
Como os
primeiros Cristãos acreditavam que Jesus tinha vivido nos tempos
Romanos é natural que tenham confundido o rei cruel que tinha
querido matar Jesus com Herodes, pois não havia outros reis cruéis
adequados durante o período Romano. Yeishu era adulto no tempo em
que os Rabis fugiram de Alexandre Janeus; porque é que os Cristãos
acreditavam que Jesus e a sua família tinham fugido para o Egipto
quando Jesus era infante? Porque é que os Cristãos acreditavam que o
rei Herodes tinha ordenado que todos os bebés nascidos em Belém
fossem mortos, quando não há evidência histórica disso? Para
responder a estas questões temos novamente que recorrer à mitologia
pagã.
O tema de uma criança divina ou semidivina que é temida
por um rei cruel é muito comum na mitologia pagã. A história usual é
que o rei cruel recebe uma profecia de que uma certa criança vai
nascer e vai usurpar o trono. Em algumas histórias a criança é
nascida de uma virgem e usualmente é filho de um deus. A mãe da
criança tenta escondê-lo. O rei normalmente ordena a matança de
todos os bebés que possam ser o profetizado rei. Exemplos de mitos
que seguem este enredo são as histórias de nascimento de Rómulo e
Remo, Perseu, Krishna, Zeus e Édipo. Apesar de os literalistas da
Tora não gostarem de o admitir, a história do nascimento de Moisés
também se assemelha à destes mitos (alguns dos quais afirmam que a
mãe pôs a criança num cesto e o colocou num rio.) Existiam
provavelmente várias histórias destas a circular no Levante que se
perderam. O mito Cristão da matança dos inocentes por Herodes é
simplesmente uma versão Cristã deste tema. O enredo era tão
conhecido que um sábio Midrashic não resistiu a usá-lo para um
relato apócrifa do nascimento de Abraão.
Os primeiros
Cristãos acreditavam que o Messias iria nascer em Belém. Esta crença
é baseada numa má interpretação de Miquéias_5.2, que simplesmente
nomeia Belém como a cidade onde a linhagem Davidiana começou. Como
os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus era o Messias, eles
automaticamente acreditaram que ele tinha nascido em Belém. Mas
porque é que os Cristãos acreditavam que ele tinha vivido em Nazaré?
A resposta é bem simples. Os primeiros Cristãos de língua Grega não
sabiam o que a palavra "Nazareno" significava. A forma primitiva
Grega desta palavra é "Nazoraios", que deriva de "Natzoriya", o
equivalente aramaico do Hebreu "Notzri" (lembre-se que "Yeishu
ha-Notzri" é o original Hebreu para "Jesus, o Nazareno".) Os
primeiros Cristãos conjecturaram que "Nazareno" significava uma
pessoa de Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em
Nazaré. Ainda hoje, os Cristãos alegremente confundem as palavras
hebraicas "Notzri" (Nazareno, Cristão), "Natzrati" (Nazareno,
natural de Nazaré) e "nazir" (nazarite), todas as quais têm
significados completamente diferentes.
A informação no
Talmude (que contém o Baraitas e o Gemara) acerca de Yeishu e ben
Stada é tão danosa para o Cristianismo que os Cristãos sempre
tomaram medidas drásticas contra ela. Quando os Cristãos primeiro
descobriram a informação, tentaram imediatamente apagá-la censurando
o Talmude. A edição de Basileia do Talmude (c. 1578 – 1580) tinha
todas as passagens relacionadas com Yeishu e ben Stada apagadas
pelos Cristãos. Ainda hoje, as edições do Talmude usadas pelos
escolares Cristãos não têm estas passagens!
Durante as
primeiras décadas deste século, ferozes batalhas académicas
irromperam violentamente entre escolares Cristãos e Ateus acerca das
verdadeiras origens do Cristianismo. Os Cristãos foram forçados a
enfrentarem a evidência Talmudica. Não podiam ignorar mais isso e
assim, em vez disso, decidiram atacá-lo. Afirmaram que o Yeishu
Talmudico era uma distorção do "Jesus histórico". Afirmaram que o
nome "Pandeira" era simplesmente uma tentativa hebraica para
pronunciar a palavra Grega para virgem – "parthenos". Apesar de
haver uma parecença superficial entre as palavras, temos de notar
que para "Pandeira" derivar de "parthenos", o "n" e o "r" têm de
trocar de posições. No entanto, os Judeus não sofriam de nenhum
impedimento linguístico que causasse isto! A resposta Cristã é que
possivelmente os Judeus alteram propositadamente a palavra
"parthenos" para os nomes "Pantheras" (encontrado na história de
Celso) ou para "pantheros", que significa pantera, e "Pandeira" é
derivado da palavra deliberadamente alterada. Este argumento também
falha, pois a terceira consoante da palavra "parthenos" alterada e
inalterada é theta. Esta letra é sempre transliterada pela letra
hebraica taw, cuja pronunciação durante os tempos clássicos muito se
assemelhava a essa letra Grega. Contudo, o nome "Pandeira" nunca é
soletrado com um taw, mas com um dalet ou um tet, o que mostra que a
forma original Grega tinha um delta como sua terceira consoante, e
não um theta. O argumento Cristão pode-se também voltar contra si:
talvez os Cristãos deliberadamente alterassem "Pantheras" para
"parthenos" quando inventaram a história da virgem que deu à luz.
Também é de notar que a semelhança entre "Pantheras" (ou
"pantheros") é muito menor quando escrita em Grego, pois na formação
original Grega as suas segundas vogais são completamente
diferentes.
Os Cristãos também não aceitaram que Maria
Magdalena estivesse ligada a Miriam, a alegada mãe de Yeishu no
Talmude. Eles argumentaram que o nome "Magdalena" significa uma
pessoa de Magdala e que os Judeus inventaram "Miriam, a cabeleireira
de mulheres" (mgdala nshaya) ou para zombar dos Cristãos, ou porque
eles próprios se equivocaram quanto ao nome "Magdalena". Este
argumento também é falso. Primeiramente, ignora a gramática Grega: o
Grego correcto para "de Magdala" é "Magdales", e o Grego correcto
para uma pessoa de Magdala é "Magdalaios". A raiz Grega original
para "Magdalena" é "Magdalen-", com um "n" distinto mostrando que a
palavra não tem nada a ver com Magdala. Em segundo lugar, Magdala só
obteve o seu nome após os Evangelhos terem sido escritos. Antes
disso era chamada Magadan ou Dalmanutha (apesar de "Magadan" ter um
"n", falta-lhe o "l", e portanto não pode ser a derivação de
"Magdalena".) De facto, a comunidade Cristã alterou o nome para
Magdala às ruínas desta área porque acreditavam que Maria Magdalena
tinha vindo de lá.
Os Cristãos também afirmam que a palavra
"Notzri" significa uma pessoa de Nazaré. Isto é, claro, falso, pois
a palavra hebraica para Nazaré é "Natzrat" e uma pessoa de Nazaré é
uma "Natzrati". O nome "Notzri" não tem a letra taw de "Natzrat", e
assim não pode derivar daí. Os Cristãos argumentam que talvez o nome
aramaico para Nazaré fosse "Natzarah" ou "Natzirah" (como o moderno
nome árabe), o que explica o taw que falta em "Notzri". Isto também
não tem senso pois a palavra aramaica para alguém da Nazaré seria
"Natzaratiya" ou "Natziratyia" (com um taw, pois a terminação
feminina "-ah" tornar-se-ia "-at-" quando o sufixo "-yia" é
adicionado), e além do mais, a forma aramaica não seria usada em
Hebreu. Os Cristãos também apareceram com outros argumentos variados
que podem ser desmascarados uma vez que eles confundem as palavras
hebraicas "Notzri" e "nazir", ou ignoram o facto de que "Notzri" é a
primitiva forma da palavra "Nazareno".
Para resumir, todos os
argumentos Cristãos foram baseados em mudanças fonéticas e formas
gramaticais impossíveis, e foram, consequentemente, desmistificadas.
Além do mais, apesar das lendas na Gemara não possam ser tidas como
factos, a evidência no Baraitas e no Tosefta respeitante a Yeishu
pode levar-nos atrás directamente até Yehoshua ben Perachyah, Shimon
ben Shetach e Yehuda ben Tabbai, enquanto que a evidência no
Baraitas e no Tosefta respeitante a ben Stada leva-nos até ao Rabi
Eliezer ben Hyrcanus e seus discípulos, que foram contemporâneos de
ben Stada. Consequentemente, esta evidência pode ser encarada como
historicamente certa. Por esta razão os Cristãos modernos não mais
atacam o Talmude, mas em vez disso negam qualquer relação entre
Jesus e Yeishu ou ben Stada. Eles desmistificam as similaridades
como puras coincidências. No entanto, ainda tem de se estar atento
aos falsos ataques contra o Talmude pois muitos livros Cristãos
ainda os mencionam e podem ressurgir de tempos em tempos.
Muitas partes da história de Jesus não são baseadas em
Yeishu ou ben Stada. A maior parte das denominações Cristãs afirma
que Jesus nasceu a 25 de Dezembro. Originalmente, os Cristãos
orientais acreditavam que ele tinha nascido a 6 de Janeiro. Os
Cristãos arménios ainda seguem esta primitiva crença enquanto que
muitos Cristãos consideram que essa é a data da visita dos Magos.
Como já foi apontado anteriormente, Jesus foi provavelmente
confundido com Tammuz, nascido da virgem Myrrha. Sabe-se que nos
tempos Romanos os deuses Tammuz, Aion e Osíris eram identificados.
Dizia-se que Osíris-Aion tinha nascido da virgem Geb a 6 de Janeiro,
e isto explica a data primitiva para o Natal. Geb era, às vezes,
representada como uma vaca sagrada e o seu templo era um estábulo,
que é provavelmente a origem da crença Cristã de que Jesus nasceu
num estábulo. Embora alguns possam pensar que esta afirmação é
forçada, é tido como um facto que algumas facções primitivas Cristãs
consideravam Jesus e Osíris nos seus escritos. A data de 25 de
Dezembro para o Natal era originalmente a data pagã do aniversário
do deus sol, cujo dia da semana é ainda conhecido como Sun_day. O
halo de luz que é usualmente mostrado à volta da face de Jesus e dos
santos Cristãos é outro conceito tirado do deus sol.
O tema
da tentação por uma criatura diabólica também é encontrado na
mitologia pagã. A história da tentação de Jesus por Satã, em
particular, parece-se com a tentação de Osíris pelo deus diabólico
Set na mitologia egípcia.
Já tínhamos sugerido que havia uma
relação entre Jesus e o deus pagão Dioniso. Como Dioniso, o infante
Jesus foi posto com fraldas e colocado numa manjedoura; como
Dioniso, Jesus podia tornar água em vinho; como Dioniso, Jesus
viajou de burro e deu de comer a uma multidão num ermo; como
Dioniso, Jesus sofreu e foi objecto de escárnio. Alguns primitivos
Cristãos afirmavam que Jesus tinha de facto nascido, não num
estábulo, mas numa caverna – como Dioniso.
De onde é que a
história de que Jesus foi crucificado veio? Parece ter resultado de
várias origens. Em primeiro lugar, houve três personagens históricas
durante o período Romano que as pessoas pensavam ser o Messias e que
foram crucificadas pelos Romanos, a saber, Yehuda da Galileia (6
D.C.), Theudas (44 D.C.) e Benjamim, o Egípcio (60 D.C.). Dado que
se pensava que estas três pessoas eram o Messias, elas foram
naturalmente confundidas com Yeishu e ben Stada. Yehuda da Galileia
tinha pregado na Galileia e tinha arranjado muitos seguidores antes
de ser crucificado pelos Romanos. A história do ministério de Jesus
na Galileia parece ter sido baseada na vida de Yehuda da Galileia.
Esta história e a crença de que Jesus viveu em Nazaré na Galileia
reforçaram-se mutuamente. A crença de que alguns dos discípulos de
Jesus foram mortos em 44 D.C. por Agripa parece ser baseado no
destino dos discípulos de Theuda. Dado que ben Stada tinha vindo do
Egipto é natural que ele tenha sido confundido com Benjamim, o
Egípcio. Eles foram também, provavelmente, contemporâneos. Alguns
escritores modernos até sugeriram que eles foram a mesma pessoa,
apesar disso não ser possível pois as histórias das suas mortes são
completamente diferentes. Nos Actos dos Apóstolos do Novo
Testamento, que usa o livro de Flávio Josefo "Antiguidades Judaicas"
(93 – 94 D.C.) como referência, é deixado claro que o autor
considerou Jesus, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio
como quatro pessoas diferentes. No entanto, naquela altura já era
muito tarde para anular as confusões que já tinham acontecido antes
do Novo Testamento ter sido escrito, e a ideia da crucificação de
Jesus tinha-se tornado uma parte integral do mito.
Em segundo
lugar, surgiu a ideia de que Jesus tinha sido executado na véspera
da Passagem. Esta crença é aparentemente baseada na execução de
Yeishu. A Passagem ocorre aquando do Equinócio da Primavera, um
evento considerado importante pelos astrólogos durante o Império
Romano. Os astrólogos pensavam nesta época como a época do
cruzamento de dois círculos celestes astrológicos, e este evento era
simbolizado por uma cruz. Deste modo, acreditava-se que Jesus tinha
morrido "na cruz". O mau entendimento deste termo por aqueles que
não eram iniciados nos cultos astrológicos foi outro factor que
contribuiu para a crença de que Jesus tenha sido crucificado. Num
dos primeiros documentos Cristãos (os "Ensinamento dos Doze
Apóstolos"), não há menção de Jesus ter sido crucificado, e o sinal
de uma cruz no céu é usado para representar a chegada de Jesus. É de
notar que o centro da superstição astrológica no Império Romano foi
a cidade de Tarso na Ásia Menor – o lugar de onde o lendário
missionário S. Paulo veio. A ideia de que uma estrela especial tenha
anunciado o nascimento de Jesus e que um eclipse solar tenha
ocorrido na sua morte é típica da superstição astrológica
Tarsiana.
O terceiro factor que contribuiu para a história da
crucificação é, outra vez, a mitologia pagã. O tema de uma divindade
ou semi-divindade sendo sacrificada contra uma árvore, poste ou
cruz, e depois ressuscitando, é muito comum na mitologia pagã. Foi
encontrado nas mitologias de todas as civilizações ocidentais,
estendendo-se desde um extremo oeste como a Irlanda até um extremo
este como a Índia. Em particular, é encontrado nas mitologias de
Osíris e Attis, ambos os quais eram muitas vezes identificados com
Tammuz. Osíris acabou com os seus braços esticados numa árvore tal
como Jesus na cruz. Esta árvore era, às vezes, mostrada como um
poste com dois braços esticados – o mesmo aspecto da cruz Cristã. Na
adoração de Serapis (uma composição de Osíris e Apis), a cruz era um
símbolo religioso. De facto, o símbolo da "cruz Latina" Cristã
parece ser baseado directamente no símbolo da cruz de Osíris e
Serapis. Os Romanos nunca usaram esta cruz tradicional Cristã para
as crucificações, eles usavam cruzes com a forma de um X ou de um T.
O hieróglifo de uma cruz numa colina era associada a Osíris. Este
hieróglifo representava o "Good One", em Grego "Chrestos", um nome
aplicado a Osíris e outros deuses pagãos. A confusão deste nome com
"Christos" (= Messias, Cristo) reforçou a confusão entre Jesus e os
deuses pagãos.
No equinócio da Primavera, os pagãos do norte
de Israel celebravam a morte e ressurreição de Tammuz-Osíris,
nascido de uma virgem. Na Ásia Menor (onde as primeiras igrejas
Cristãs se estabeleceram), uma celebração similar era feita para
Attis, também nascido de uma virgem. Attis era mostrado como
morrendo contra uma árvore, sendo enterrado numa gruta e depois
ressuscitando ao terceiro dia. Agora se vê de onde a história da
ressurreição de Jesus veio. Na adoração de Baal, acreditava-se que
Baal tinha enganado Mavet (o deus da morte) aquando do equinócio da
Primavera. Ele fez-se passar por morto e depois apareceu vivo. Ele
teve sucesso neste ardil dando o seu único filho como
sacrifício.
A ocorrência da Passagem na mesma época do ano
que as "Páscoas" pagãs não é coincidência. Muitos dos costumes da
Pessach foram designados como alternativas Judaicas aos costumes
pagãos. Os pagãos acreditavam que quando o seu deus da natureza
(como Tammuz, Osíris ou Attis) morria e ressuscitava, a sua vida ia
para as plantas usadas pelo homem como comida. O matza feito da
colheita da Primavera era o seu novo corpo e o vinho das uvas era o
seu novo sangue. No Judaísmo, o matza não era usado para representar
o corpo de um deus, mas o pão de homem pobre que os Judeus comeram
antes de saírem do Egipto. Os pagãos usavam o sacrifício pascal para
representar o sacrifício de um deus ou do seu filho único, mas o
Judaísmo usou-o para representar a refeição comida antes de saírem
do Egipto. Em vez de contarem histórias de Baal a sacrificar o seu
filho varão a Mavet, os Judeus contavam como o mal'ach ha-mavet (o
anjo da morte) matou os filhos varões dos Egípcios. Os pagãos comiam
ovos para representar a ressurreição e renascimento do seu deus da
natureza, mas o ovo no seder representa o renascimento do povo Judeu
ao escapar do cativeiro no Egipto. Quando os primeiros Cristãos se
deram conta das similaridades entre os costumes da Pessach e os
costumes pagãos, eles deram a volta completa e converteram os
costumes da Pessach de volta às suas velhas interpretações pagãs. A
seder tornou-se a última ceia de Jesus, similar à última ceia de
Osíris, comemorada no equinócio da Primavera. O matza e o vinho
tornaram-se novamente no corpo e sangue de um falso deus, desta vez
Jesus. Os ovos da Páscoa são novamente comidos para comemorar a
ressurreição de um "deus" e também o "renascimento" obtido pela
aceitação do seu sacrifício na cruz.
O mito da última ceia é
particularmente interessante. Como foi mencionado, a ideia básica da
última ceia ocorrer no equinócio vernal vem da história da última
ceia de Osíris. Na história Cristã, Jesus está presente com doze
apóstolos. De onde é que a história dos doze apóstolos veio? Parece
que na primeira versão a história era entendida como uma alegoria. A
primeira vez que doze apóstolos são mencionados é no documento
conhecido como "Ensinamentos dos Doze Apóstolos". Este documento
aparentemente teve origem num documento sectário Judeu escrito no
primeiro século D.C., mas foi adoptado pelos Cristãos, que o
alteraram substancialmente e adicionaram-lhe ideias Cristãs. Nas
primeiras versões é claro que os "doze apóstolos" são os doze filhos
de Jacob representando as doze tribos de Israel. Os Cristãos, mais
tarde, consideraram os "doze apóstolos" como sendo alegóricos
discípulos de Jesus.
Na mitologia egípcia, Osíris foi traído
na sua última ceia pelo deus diabólico Set, que os Gregos
identificavam como Typhon. Esta parece ser a origem da ideia de que
o traidor de Jesus estava presente na sua última ceia. A ideia de
que este traidor se chamava "Judas" vem do tempo em que os doze
apóstolos eram ainda entendidos como sendo os filhos de Jacob. A
ideia de Judas (= Judah, Yehuda) traindo Jesus (o "filho" de José) é
uma forte reminiscência da história do José da Tora sendo traído
pelos seus irmãos com Yehuda como líder da traição. Esta alegoria
seria particularmente apelativa para os Samaritanos Notzrim, que se
consideravam filhos de José, traídos pelos Judeus ortodoxos
(representados por Judas/Yehuda.)
No entanto, a história dos
doze apóstolos perdeu a sua interpretação alegórica original, e os
Cristãos começaram a pensar que os "doze apóstolos" eram doze
pessoas reais que seguiram Jesus. Os Cristãos tentaram encontrar
nomes para estes doze apóstolos. Mateus e Tadeu foram baseados em
Mattai e Todah, dois dos discípulos de Yeishu. Um ou os dois
apóstolos chamados Jacobus (Tiago) é possivelmente baseado no Jacob
de Kfar Sekanya, um primitivo Cristão conhecido do rabi Eliezer ben
Hyrcanus, mas isto é apenas uma suposição. Como já vimos, a
personagem de Judas é maioritariamente baseado no Judah da Tora, mas
poderá haver também uma ligação com um contemporâneo de Yeishu,
Yehuda ben Tabbai, o discípulo do Rabi Yehoshua ben Perachyah. Como
já foi mencionado, a ideia do traidor na última ceia é derivada da
mitologia de Osíris, que foi traído por Set-Typhon. Set-Typhon tinha
cabelo ruivo, e esta é provavelmente a origem da afirmação de que
Judas tinha o cabelo ruivo. Esta ideia levou ao retrato estereotipo
Cristão de que os Judeus têm cabelo ruivo, não obstante o facto de
que, na realidade, o cabelo ruivo é de longe mais comum entre
Arianos do que entre Judeus.
O apelido "Iscariotes" é muitas
vezes atribuído a Judas. Em algumas partes onde os Novos Testamentos
Ingleses têm "Iscariotes", o texto Grego realmente tem "apo
Kariotou", que significa "de Karyot". Karyot era o nome de uma
cidade em Israel, provavelmente o moderno lugar conhecido em árabe
como Karyatein. Portanto, vê-se que o nome Iscariotes é derivado do
Hebreu "ish Karyot", que significa "homem de Karyot". Isto é, com
efeito, a compreensão aceite hoje em dia, pelos Cristãos, do nome.
No entanto, no passado, os Cristãos entendiam mal este nome, e
nasceram lendas de que Judas era da cidade de Sychar, que ele era um
membro do partido extremista conhecido como Sicarii, e que ele era
da tribo de Issacar. O mais interessante mal entendimento do nome é
a sua primitiva confusão com a palavra scortea, que significa uma
bolsa de couro. Isto levou ao mito do Novo Testamento de que Judas
carregava uma tal bolsa, o que por sua vez levou à crença de que ele
era o tesoureiro dos apóstolos.
O apóstolo Pedro parece ser
uma personagem largamente ficcional. De acordo com a mitologia
Cristã, Jesus escolheu-o para ser o "guardião das chaves do reino
dos céus". Isto é claramente baseado na divindade pagã egípcia
Petra, que era o porteiro do céu e da vida após a morte, governados
por Osíris. Temos também de duvidar da história de Lucas "o médico",
que era suposto ser amigo de Paulo. O original Grego para Lucas é
Lycos, que era um outro nome para Apolo, o deus da cura.
João
Baptista é largamente baseado numa personagem histórica que
praticava imersão ritual na água como um símbolo físico de
arrependimento. Ele não realizava baptismos sacramentais ao estilo
Cristão para purificar as almas das pessoas – tal ideia era
totalmente estranha ao Judaísmo. Ele foi condenado à morte por
Herodes Antipas, que temeu que ele estivesse prestes a começar uma
rebelião. O nome de João em Grego era "Ioannes", e em latim
"Johannes". Apesar de estes nomes serem usualmente usados para o
nome Hebreu Yochanan, é improvável que este tenha sido o verdadeiro
nome Hebreu de João. "Ioannes" assemelha-se a "Oannes", o nome Grego
para o deus pagão Ea. Oannes era o "Deus da Casa de Água". Baptismos
sacramentais para purificação mágica das almas era uma prática que
aparentemente originou a adoração de Oannes. A mais provável
explicação do nome de João e a sua relação com Oannes é a de que
João provavelmente ostentou o apelido "Oannes", dado que ele
praticava o baptismo, que tinha adaptado do culto de Oannes. O nome
"Oannes" foi mais tarde confundido com "Ioannes" (de facto, a lenda
do Novo Testamento que diz respeito a João providencia uma pista de
que o seu verdadeiro nome talvez tenha sido Zacarias.) É sabido, dos
escritos de Flávio Josefo, que o João histórico rejeitou a
interpretação pagã do baptismo como "purificação de almas". Os
Cristãos, no entanto, voltaram a esta interpretação pagã
original.
O deus Oannes era associado com a constelação do
Capricórnio. Tanto Oannes como a constelação do Capricórnio eram
associados com a água (a constelação é suposto representar uma
mítica criatura marítima com o corpo de peixe e as partes dianteiras
de um bode.) Já vimos que a Jesus é dado a mesma data de nascimento
do deus sol (25 de Dezembro), quando o sol está na constelação de
Capricórnio. Os pagãos pensavam deste período como um onde o deus
sol imerge nas águas de Oannes e emerge renascido (o Solstício de
Inverno, quando os dias começam a ficar maiores, ocorre perto de 25
de Dezembro.) Este mito astrológico é aparentemente a origem da
história de que Jesus foi baptizado por João. Provavelmente começou
como uma história astrológica alegórica, mas parece que o deus
Oannes mais tarde foi confundido com a personagem histórica de
apelido Oannes (João.)
A crença de que Jesus tinha conhecido
João contribuiu para a crença de que a pregação e crucificação de
Jesus tenha ocorrido quando Pôncio Pilatos era procurador da Judeia.
É de notar que muitas das datas para Jesus citadas pelos Cristãos
são completamente absurdas. Jesus foi em parte baseado em Yeishu e
ben Stada, que provavelmente viveram com mais de um século de
diferença. Ele foi também baseado nos três falsos Messias, Yehuda,
Theudas e Benjamim, que foram crucificados pelos Romanos em várias
épocas diferentes. Outro facto que contribuiu para a datação confusa
de Jesus foi que Jacob de Kfar Sekanya e provavelmente também outros
Notzrim usavam expressões como "assim fui ensinado por Yeishu
ha-Notzri", apesar dele não ter sido ensinado por Yeishu em pessoa.
Sabemos da Gemara que o testemunho de Jacob levou o Rabi Eliezer ben
Hyrcanus a incorrectamente concluir que Jacob era um discípulo de
Yeishu. Isto sugere que havia rabis que não sabiam que Yeishu tinha
vivido nos tempos Asmoneus. Mesmo depois dos Cristãos situarem Jesus
no primeiro século D.C., a confusão continuou entre os não-Cristãos.
Houve um contemporâneo do Rabi Akiva chamado Pappus ben Yehuda que
costumava trancar a sua esposa infiel. Sabemos da Gemara que algumas
pessoas que algumas pessoas que confundiam Yeishu e ben Stada
confundiam a mulher de Pappus com Míriam, a infiel esposa de Yeishu.
Isto iria situar Yeishu mais de dois séculos depois do que ele
actualmente viveu!
A história do Novo Testamento confunde
tantos períodos históricos que não há maneira de a reconciliar com a
História. O ano tradicional do nascimento de Jesus é 1 D.C. Era
suposto Jesus não ter mais de dois anos de idade quando Herodes
ordenou a matança dos inocentes. No entanto, Herodes morreu antes de
12 de Abril do ano 4 A.C.. Isto levou alguns Cristãos a redatarem o
nascimento de Jesus entre 6 – 4 A.C.. No entanto, Jesus era também
suposto ter nascido durante o censos de Quirinius. Este censos teve
lugar depois de Arquelau ter sido deposto em 6 D.C., dez anos depois
da morte de Herodes. Era suposto Jesus ter sido baptizado por João
logo depois de João ter começado a baptizar e a pregar, no décimo
quinto ano do reinado de Tibério, i.e., 28 – 29 D.C., quando Pôncio
Pilatos foi governador da Judeia, i.e., 26 – 36 D.C. De acordo com o
Novo Testamento, isto também aconteceu quando Lysanias foi tetrarca
de Abilene e Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Mas Lysanias
governou Abilene de c. 40 A.C. até ser executado em 36 A.C. por
Marco António, cerca de 60 anos antes da data para Tibério, e cerca
de 30 anos antes do suposto nascimento de Jesus! Além do mais, nunca
houve dois sumos sacerdotes juntos, em particular, Anás não foi sumo
sacerdote juntamente com Caifás. Anás foi retirado do ofício de sumo
sacerdote em 15 D.C., depois de deter o ofício por alguns nove anos.
Caifás só se tornou sumo sacerdote em 18 D.C., cerca de três anos
depois de Anás (ele deteve este ofício durante cerca de 18 anos, e
assim as suas datas são consistentes com Tibério e Pôncio Pilatos,
mas não com Anás ou Lysanias.) Apesar dos Actos dos Apóstolos
apresentarem Yehuda da Galileia, Theudas e Jesus como três pessoas
diferentes, situa incorrectamente Theudas (crucificado no ano 44
D.C.) antes de Yehuda, que menciona correctamente como tendo sido
crucificado durante o censos (6 D.C.) Muitos destes absurdos
cronológicos parecem ser baseados em leituras mal interpretadas e
mal entendimentos do livro de Flávio Josefo "Antiguidades Judaicas",
que foi usado como referência pelo autor do Evangelho segundo S.
Lucas e dos Actos dos Apóstolos.
A história do julgamento de
Jesus é também altamente suspeita. Tenta claramente aplacar os
Romanos enquanto difama os Judeus. O Pôncio Pilatos histórico era
arrogante e déspota. Ele odiava os Judeus e nunca delegou nenhuma
autoridade neles. No entanto, na mitologia Cristã, ele é retratado
como um governante preocupado que se distancia das acusações contra
Jesus e que foi forçado a obedecer às pretensões dos Judeus. De
acordo com a mitologia Cristã, em cada Passagem os Judeus pediriam a
Pilatos para libertar um qualquer criminoso que eles escolhessem.
Isto é, claro, uma mentira espalhafatosa. Os Judeus nunca tiveram o
costume de libertar criminosos culpados na Passagem ou em qualquer
outra época do ano. De acordo com o mito, Pilatos deu aos Judeus a
chance de libertar Jesus, o Cristo, ou um assassino chamado Jesus
Barrabás. Os Judeus são supostos ter entusiasticamente escolhido
Jesus Barrabás. Esta história é uma malévola mentira anti-semita,
uma das muitas mentiras semelhantes encontradas no Novo Testamento
(maioritariamente escrito por anti-semitas.) O que é particularmente
odioso nesta história sem sentido é que é aparentemente uma
distorção de uma história mais antiga que clamava que os Judeus
tinham pedido para Jesus Cristo ser liberto. O nome "Barrabás" é
simplesmente a forma Grega do Aramaico "bar Abba", que significa
"filho do Pai". Assim, "Jesus Barrabás" originalmente significava
"Jesus o filho do Pai", em outras palavras o usual Jesus Cristão.
Quando a história antiga clamava que os Judeus queriam que Jesus
Barrabás fosse solto, estava a referir-se ao Jesus usual. Alguém
distorceu a história afirmando que Jesus Barrabás era uma pessoa
diferente de Jesus Cristo e isto enganou os Cristãos Romanos e
Gregos, que não sabiam o significado do nome
"Barrabás".
Finalmente, a afirmação de que o Jesus
ressurrecto apareceu aos seus discípulos é também baseada em
superstições pagãs. Na mitologia Romana, Rómulo, nascido de uma
virgem, apareceu ao seu amigo na estrada antes de ser levado para o
céu (o tema de ser levado para o céu é encontrado em grande número
de mitos e lendas pagãs, e até em histórias Judaicas.) Foi afirmado
que Apolónio de Tyana também tinha aparecido aos seus discípulos
depois de ter ressuscitado. É interessante de notar que o Apolónio
histórico nasceu mais ou menos ao mesmo tempo que o mítico Jesus era
suposto ter nascido. Em lendas, as pessoas afirmavam que ele tinha
executado muitos milagres, que eram idênticos àqueles atribuídos a
Jesus, tal como exorcismos de demónios e o de trazer novamente a
vida a uma rapariga morta.
Quando confrontados com
missionários Cristãos, deve-se apontar tanta informação quanta for
possível acerca das origens do Cristianismo e do mito de Jesus.
Quase nunca os irás conseguir convencer de que o Cristianismo é uma
falsa religião. Não poderás provar para além de todas as dúvidas de
que a história de Jesus surgiu da maneira que nós afirmamos, uma vez
que muita da evidência é circunstancial. De facto, não podemos ter a
certeza da origem precisa de muitos pontos particulares da história
de Jesus. Isto não interessa. O que é importante é que tu próprio
compreendas que existem alternativas lógicas à crença cega nos mitos
Cristãos e que pode ser lançada uma dúvida racional sobre a
narrativa do Novo Testamento.
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