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O MITO DO
JESUS HISTÓRICO II
A FALTA DE EVIDÊNCIA
HISTÓRICA PARA JESUS
Hayyim ben Yehoshua
A resposta Cristã habitual para
os que questionam a historicidade de Jesus é manusear vários
documentos como "evidência histórica" para a existência de Jesus.
Eles normalmente começam com os evangelhos canónicos, ou seja, O
Evangelho segundo S. Mateus, O Evangelho segundo S. Marcos, O
Evangelho segundo S. Lucas e O Evangelho segundo S. João. A
afirmação habitual é a de que estes são "registos de testemunhas
oculares sobre a vida de Jesus feitas pelos seus discípulos". A
resposta a este argumento pode ser resumido numa palavra –
pseudepigráfico. Este termo refere-se a trabalhos de escrita cujos
autores ocultam as suas verdadeiras identidades atrás de nomes de
personagens lendárias do passado. A escrita pseudepigráfica era
particularmente popular entre os Judeus durante os períodos Asmoneu
e Romano, e este estilo de escrita foi adoptado pelos primeiros
Cristãos.
Os evangelhos canónicos não são os únicos
evangelhos. Por exemplo, há também evangelhos de Maria, Pedro, Tomé
e Filipe. Estes quatro evangelhos são reconhecidos como sendo
pseudepigráficos tanto por escolares Cristãos como não Cristãos.
Eles providenciam uma informação histórica ilegítima dado que foram
baseados em rumores e crenças. A existência destes óbvios evangelhos
pseudepigráficos faz com que seja bastante racional suspeitar que os
evangelhos canónicos poderão também ser pseudepigráficos. O facto de
que os primeiros Cristãos escreviam evangelhos pseudepigráficos
sugere que isto era de facto a norma. Deste modo, é quando os
missionários afirmam que os evangelhos canónicos não são
pseudepigráficos que requer provas.
O Evangelho segundo S.
Marcos é escrito no nome de S. Marcos, o discípulo do mítico S.
Pedro (S. Pedro é maioritariamente baseado no deus pagão Petra, que
era o porteiro do céu e da vida depois da morte na religião
egípcia.) Até na mitologia Cristã S. Marcos não era discípulo de
Jesus, mas um amigo de S. Paulo e S. Lucas. O Evangelho segundo S.
Marcos foi escrito antes do Evangelho segundo S. Mateus e do
Evangelho segundo S. Lucas (c. de 100 D.C.), mas depois da
destruição do Templo em 70 D.C., que menciona. Muitos Cristãos
acreditam que foi escrito em c. 75 D.C. Esta data não é baseada em
História, mas na crença de que um histórico S. Marcos escreveu o
evangelho na sua velhice. Isto não é possível, dado que o estilo de
linguagem usada em S. Marcos mostra que foi escrita (provavelmente
em Roma) por um Romano convertido ao Cristianismo, cuja primeira
língua era Latim e não Grego, Hebreu ou Aramaico. De facto, como
todos os outros evangelhos são escritos em nome de personagens
lendárias do passado, o Evangelho segundo S. Marcos foi
provavelmente escrito muito depois de algum Marcos histórico (se
houve um) ter morrido. O conteúdo do Evangelho segundo S. Marcos é
uma colecção de mitos e lendas que foram juntos de forma a formar
uma narrativa contínua. Não há provas de que tenha sido baseado em
qualquer fonte histórica de confiança. O Evangelho segundo S. Marcos
foi alterado e editado muitas vezes, e a versão moderna
provavelmente data de cerca de 150 D.C. Clemente de Alexandria (c.
de 150 D.C. – c. de 215 D.C.) queixou-se acerca das versões
alternativas deste evangelho, que ainda circulavam no seu tempo (os
Carpocratians, uma primeira facção Cristã, considerava a pederastia
como sendo uma virtude, e Clemente queixou-se da sua versão do
Evangelho segundo S. Marcos, que contava as explorações homossexuais
de Jesus com rapazes novos!.)
O Evangelho segundo S. Mateus
certamente não foi escrito pelo apóstolo S. Mateus. A personagem de
S. Mateus é baseada na personagem histórica chamada Mattai, que era
um discípulo de Yeishu ben Pandeira (Yeishu, que viveu nos tempos
Asmoneus, foi uma das várias pessoas históricas em quem a personagem
de Jesus foi baseada.) O Evangelho segundo S. Mateus foi
originalmente anónimo e só foi lhe foi imputado o nome de S. Mateus
algures durante a primeira metade do segundo século D.C. A forma
primitiva foi provavelmente escrita mais ou menos ao mesmo tempo do
Evangelho de S. Lucas (c. de 100 D.C.), pois nenhum dos dois parece
saber do outro. Foi alterado e editado até cerca de 150 D.C. Os
primeiros dois capítulos, que tratam da virgem a dar à luz, não
estavam na versão original, e os Cristãos de Israel com descendência
Judaica preferiram esta primeira versão. Para suas fontes, usou o
Evangelho segundo S. Marcos e uma colecção de ensinamentos referidos
como a Segunda Fonte (ou o Documento Q.) A Segunda Fonte não
sobreviveu como um documento isolado, mas todos os seus conteúdos
são encontrados no Evangelho segundo S. Marcos e no Evangelho
segundo S. Lucas. Todos os ensinamentos aí contidos podem ser
encontrados no Judaísmo. Os ensinamentos mais razoáveis podem ser
encontrados no Judaísmo ortodoxo, enquanto que os menos razoáveis
podem ser encontrados no Judaísmo sectário. Não há nada nele que
requeira a nossa suposição da existência de um Jesus histórico real.
Apesar do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S.
Lucas atribuírem os ensinamentos neles contidos a Jesus, a Epístola
de S. Tiago atribui-os a S. Tiago. Como foi visto, o Evangelho
segundo S. Mateus não providencia nenhuma evidência histórica para
Jesus.
O Evangelho de S. Lucas e o livro dos Actos dos
Apóstolos (que eram duas partes de um mesmo trabalho) foram escritos
em nome da personagem mitológica Cristã de S. Lucas, o médico (que
provavelmente não foi uma personagem histórica mas uma adaptação
Cristã do deus Grego da cura Lycos.) Até na mitologia Cristã S.
Lucas não foi um discípulo de Jesus, mas um amigo de S. Paulo. O
Evangelho segundo S. Lucas e os Actos dos Apóstolos usam o livro de
Flávio Josefo, "Antiguidades Judaicas", como referência, e assim não
podiam ter sido escritos antes de 93 D.C. Nesta altura, qualquer
amigo de S. Paulo estaria ou morto ou bem senil. De facto, tanto
escolares Cristãos como não Cristãos estão de acordo de que as
primeiras versões dos dois livros foram escritas por um Cristão
anónimo em c. 100 D.C., e foram alterados e editados até c. 150 –
175 D.C. Além do livro de Flávio Josefo, o Evangelho segundo S.
Lucas e os Actos dos Apóstolos também usam o Evangelho de S. Marcos
e a Segunda Fonte como referências. Apesar de Flávio Josefo ser
considerado mais ou menos de confiança, o autor anónimo muitas vezes
lê ou entende mal Flávio Josefo, e além disso nenhuma das
informações acerca de Jesus no Evangelho segundo S. Lucas e nos
Actos dos Apóstolos vem de Flávio Josefo. Como se vê, o Evangelho
segundo S. Lucas e os Actos dos Apóstolos não têm valor
histórico.
O Evangelho segundo S. João foi escrito em nome do
apóstolo S. João, o irmão de S. Tiago, filho de Zebedeu. O autor do
Evangelho segundo S. Lucas usou tantas fontes quantas pode obter,
mas ele não tinha conhecimento do Evangelho segundo S. João. Assim,
o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito antes do
Evangelho segundo S. Lucas (c 100 D.C.) Consequentemente, o
Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito pela
semi-mítica personagem de S. João, o apóstolo, que era suposto ter
sido morto por Herodes Agripa pouco antes da sua própria morte em 44
D.C. (S. João, o apóstolo, é aparentemente baseado num histórico
discípulo do falso Messias, Theudas, que foi crucificado pelos
Romanos em 44 D.C., e cujos discípulos foram assassinados.) O autor
real do Evangelho segundo S. João foi, de facto, um anónimo Cristão
de Éfeso, na Ásia Menor. O fragmento mais velho sobrevivente do
Evangelho segundo S. João data de c. 125 D.C., e assim podemos datar
o Evangelho de c. 100 – 125 D.C. Baseados em considerações
estilísticas, muitos escolares diminuem a data para c. 100 – 120
D.C. A primeira versão do Evangelho segundo S. João não contém o
último capítulo, que trata da aparição de Jesus aos seus discípulos.
Tal como os outros Evangelhos, o Evangelho segundo S. João
provavelmente só chegou à sua presente forma por volta de 150 – 175
D.C. O autor do Evangelho segundo S. João usou o Evangelho segundo
S. Marcos frugalmente, e assim pode-se suspeitar que não confiava
nele. Ele ou não tinha lido o Evangelho segundo S. Mateus e o
Evangelho segundo S. Lucas ou não confiava neles, pois ele não usa
nenhuma informação deles que não tenha sido encontrada no Evangelho
segundo S. Marcos. Grande parte do Evangelho segundo S. João
consiste em lendas com óbvias interpretações fundamentais
alegóricas, e pode-se suspeitar que o autor nunca tencionou que
fossem História. O Evangelho segundo S. João não contém nenhuma
informação de fontes históricas de confiança.
Os Cristãos
afirmarão que próprio Evangelho segundo S. João declara que é um
documento histórico escrito por S. João. Esta pretensão é baseada
nos versos Jo 19.34 – 35 e Jo 21.20 – 24. Jo 19.34 – 35 não afirma
que o Evangelho foi escrito por S. João. Afirma que os eventos
descritos nos versos imediatamente precedentes foram reportados
correctamente por uma testemunha. A passagem é ambígua e não é claro
se a testemunha é suposta ser a mesma pessoa que o autor. Muitos
escolares são da opinião de que a ambiguidade é deliberada e que o
autor do Evangelho segundo S. João está a tentar arreliar os seus
leitores nesta passagem, bem como nas passagens em que conta
histórias miraculosas com interpretações alegóricas. Jo 21.20 – 24
também não afirma que o autor é S. João. Afirma que o discípulo
mencionado na passagem é alguém que testemunhou os eventos
descritos. É mais uma vez notavelmente ambíguo no que refere à
questão do discípulo ser a mesma pessoa que o autor. É de notar que
esta última passagem é no último capítulo do Evangelho segundo S.
João, que não fazia parte do Evangelho original, mas que foi
adicionado como um epílogo por um redactor anónimo. Tem de se estar
consciente do facto de que muitas traduções "fáceis de entender" do
Novo Testamento distorcem as passagens mencionadas para remover a
ambiguidade encontrada no original Grego (idealmente, uma pessoa
precisa de estar familiarizada com o texto original Grego do Novo
Testamento de maneira a evitar traduções preconceituosas e
corrompidas usadas por fundamentalistas e missionários
Cristãos.)
De maneira a fazer recuar as suas pretensões de
que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus
foram escritos pelos "reais" apóstolos S. Marcos e S. Mateus, e que
Jesus é uma personagem histórica, os missionários muitas vezes
chamam a atenção para o assim chamado "testemunho de Papias". Papias
foi o bispo de Hierápolis (perto de Éfeso) em meados do segundo
século D.C. Nenhum dos seus escritos sobreviveu, mas o historiador
Cristão Eusébio (c. 260 – 339 D.C.), no seu livro História
Eclesiástica (escrito c. 311 – 324 D.C.) parafraseou certas
passagens do livro de Papias "Exposition of the Oracles of the Lord"
(escrito c. 140 – 160 D.C.) Nestas passagens, Papias afirma que
tinha conhecido as filhas do apóstolo S. Filipe, e também reportou
várias histórias que afirmou terem vindo de pessoas chamadas
Aristion e João, o Ansião, que ainda estariam vivos durante a sua
própria vida. Eusébio parece ter pensado que Aristion e João, o
Ansião eram discípulos de Jesus. Papias afirmava que João, o Ansião
tinha dito que S. Marcos tinha sido o intérprete de S. Pedro e tinha
escrito exactamente tudo o que S. Pedro tinha escrito sobre Jesus.
Papias também afirmou que S. Mateus tinha compilado todos os
"oráculos" em Hebreu, e todos os tinham interpretado o melhor que
podiam. Nada disto, no entanto, providencia uma evidência histórica
legítima de Jesus nem suporta a crença de que o Evangelho segundo S.
Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram realmente escritos por
apóstolos ostentando aqueles nomes. Papias foi um blasonador e não é
de nenhuma maneira certo de que ele tenha sido honesto quando
afirmou ter conhecido as filhas de S. Filipe. Mesmo que tivesse,
isto iria, no máximo, provar que o apóstolo S. Filipe da mitologia
Cristã tinha sido baseado numa personagem histórica. Papias nunca
afirmou explicitamente que tinha conhecido Aristion e João, o
Ansião. Além do mais, só porque Eusébio no século IV acreditou que
tinham sido discípulos de Jesus não quer dizer que tenham sido. Nada
é conhecido sobre quem realmente seria Aristion. Ele não é
certamente um dos discípulos na usual tradição Cristã. Já vi livros
em que certos fundamentalistas Cristãos afirmam que João, o Ansião
era o apóstolo S. João, o filho de Zebedeu, e que ele ainda estaria
vivo quando Papias era jovem. Eles também afirmam que Papias viveu
entre c. 60 – 130 D.C., e que ele escreveu o seu livro em c. 120
D.C. Estas datas não são baseadas em nenhuma legítima evidência e
são um completo disparate: Papias foi bispo de Hierápolis em c. 150
D.C. e como foi já mencionado o seu livro foi escrito algures no
período c. 140 – 160 D.C. Puxando a data para Papias para 60 D.C.,
ainda não o coloca durante o tempo de vida do apóstolo S. João, que,
de acordo com as lendas Cristãs normais, foi morto em 44 D.C. Além
disso, é improvável que João, o Ansião tenha tido alguma coisa a
haver com S. João, o apóstolo. De acordo com Epifâneo (c. 320 –
403), um primitivo Cristão chamado João, o Ansião tinha morrido em
117 D.C. Teremos mais a dizer sobre ele quando discutirmos as três
epístolas atribuídas a S. João. Qualquer que seja o caso, as
histórias que Papias coleccionou eram sendo contadas pelo menos uma
década depois de os Evangelhos e os Actos dos Apóstolos terem sido
escritos, e reflectem rumores e superstições infundadas acerca das
origens destes livros. Em particular, a história acerca de S. Marcos
obtida de João, o Ansião, não é mais que uma elaboração superficial
da lenda acerca de S. Marcos encontrada nos Actos dos Apóstolos, e
assim não nos diz nada acerca das verdadeiras origens do Evangelho
segundo S. Marcos. A história acerca de S. Mateus escrever os
"oráculos" é simplesmente um rumor, e além disso, não tem nada a
haver com o Evangelho segundo S. Mateus. O termo "oráculos" pode
apenas ser entendido como uma referência à colecção de escritos
conhecidos como Oracles of the Lord, que é referido no título do
livro de Papias, e que com toda a probabilidade é a mesma coisa que
a Segunda Fonte, não o Evangelho segundo S. Mateus.
Além dos
Evangelhos canónicos e dos Actos dos Apóstolos, os missionários
também tentam usar as várias epístolas Cristãs como prova da
história de Jesus. Eles afirmam que as epístolas são cartas escritas
por discípulos e seguidores de Jesus. No entanto, epístolas (do
Grego epistolē, significando mensagem ou ordem) são livros, escritos
sob forma de cartas (usualmente de personagens lendárias do
passado), que expõem doutrinas e instruções religiosas. Esta forma
de escrita religiosa foi usada pelos Judeus nos tempos Greco-Romanos
(a mais famosa epístola Judaica é a Epístola de Jeremias, que é uma
prolongada condenação da idolatria, escrita durante o período
Helénico na forma de carta pelo profeta Jeremias à população de
Jerusalém mesmo antes deles terem sido exilados para a Babilónia.)
Como no caso dos Evangelhos, há epístolas Cristãs que não estão
contidas no Novo testamento, que escolares tanto Cristãos como
não-Cristãos concordam serem epístolas pseudepigráficas e de nenhum
valor histórico, pois expõem crenças e não História. A existência de
epístolas pseudepigráficas, e verdadeiramente todo o conceito de uma
epístola, sugere que as epístolas eram normalmente pseudepigráficas.
Ainda assim, são as afirmações dos missionários e Cristãos
fundamentalistas de que as epístolas canónicas são cartas genuínas
que requerem provas.
A Epístola de S. Judas é escrita em nome
de Jude (Judas), o irmão de S. Tiago. De acordo com o Evangelho
segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus, Jesus tinha
irmãos chamados Judas e Tiago. Comparando com outros escritos mostra
que a Epístola de S. Judas foi escrita em c. 130 D.C., e assim é
obviamente pseudepigráfica. No entanto, não há nenhuma evidência que
o seu autor usou alguma fonte histórica legítima no que se refere a
Jesus.
Duas das epístolas canónicas são escritas em nome de
S. Pedro. Dado que S. Pedro é uma adaptação da divindade pagã
egípcia Petra, estas epístolas certamente não foram escritas por
ele. O estilo e o carácter da Primeira Epístola de S. Pedro sozinhos
mostram que não pode ter sido escrita antes de 80 D.C. Até de acordo
com a lenda Cristã, S. Pedro era suposto ter morrido no decurso das
perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.C. e portanto ele não
poderia ter escrito a epístola. O autor do Evangelho segundo S.
Lucas e dos Actos dos Apóstolos usou todas as fontes escritas que
conseguiu obter e tendia a usá-los indiscriminadamente, no entanto
ele não menciona quaisquer epístolas de S. Pedro. Isto mostra que a
Primeira Epístola de S. Pedro foi provavelmente escrita depois do
Evangelho segundo S. Lucas e dos Actos dos Apóstolos (c. 100 D.C.)
Nenhuma das referências a Jesus na Primeira Epístola de S. Pedro é
tirada de fontes históricas, mas em vez disso reflecte crenças e
superstições. A Segunda Epístola de S. Pedro é uma declaração contra
os Marcionistas, e portanto deve ter sido escrita em c. 150 D.C.
Como se vê, é claramente pseudepigráfico. A Segunda Epístola de S.
Pedro usa como fontes: a história da transfiguração de Jesus
encontrada no Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S.
Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, o Apocalipse de S. Pedro e a
Epístola de S. Judas. O não canónico Apocalipse de S. Pedro (escrito
algures no primeiro quarto do segundo século D.C.) é reconhecido
como sendo não-histórico até pelos fundamentalistas Cristãos. Assim,
a Segunda Epístola de S. Pedro também não usa qualquer fonte
histórica legítima.
Agora voltamo-nos para as epístolas
supostamente escritas por S. Paulo. A Primeira Epístola de S. Paulo
a Timóteo avisa contra o trabalho Marcionista conhecido como
Antithesis. Marcion foi expulso da Igreja de Roma em c. 144 D.C. e a
Primeira Epístola de S. Paulo a Timóteo foi escrita pouco depois.
Como se vê, temos novamente um caso claro de pseudepigrafia. A
Segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo e a Epístola de S. Paulo a
Tito foram escritas pelo mesmo autor e datam de cerca do mesmo
período. Estas três epístolas são conhecidas como as "epístolas
pastorais". As 10 restantes epístolas "não-pastorais" escritas no
nome de S. Paulo eram conhecidas por Marcion em c. 140 D.C. Algumas
delas não foram escritas somente no nome de S. Paulo, mas estão na
forma de cartas escritas por S. Paulo em colaboração com vários
amigos como Sosthenes, Timóteo e Silas. O autor do Evangelho segundo
S. Lucas e dos Actos dos Apóstolos usou todas as vias para obter
todas as fontes disponíveis e tendeu a usá-las indiscriminadamente,
mas ele não usou nada das epístolas Paulinas. Podemos então concluir
que as epístolas não-pastorais foram escritas depois do Evangelho
segundo S. Lucas e dos Actos dos Apóstolos no período c. 100 - 140
D.C. A não-canónica Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios
(escrita c. 125 D.C.) usa a Primeira Epístola de S. Paulo aos
Corintios como fonte, e portanto podemos reduzir a data para essa
epístola para 100 - 125 D.C. No entanto, ficamos com a conclusão de
que todas as epístolas Paulinas são pseudepigráficas (o semi-mítico
S. Paulo era suposto ter morrido durante as perseguições instigadas
por Nero em c. 64 D.C.) Algumas das epístolas Paulinas aparentam
terem sido alteradas e revistas numerosas vezes antes de terem
chegado às suas formas modernas. Como fontes usam-se mutuamente, e
ainda os Actos dos Apóstolos, o Evangelho segundo S. Marcos, o
Evangelho segundo S. Mateus, o Evangelho segundo S. Lucas e a
Primeira Epístola de S. Pedro. Podemos então concluir que não
providenciam nenhuma evidência histórica de Jesus.
A Epístola
aos Hebreus é uma epístola particularmente interessante, dado que
não é pseudepigráfica mas completamente anónima. O seu autor nem
revela o seu próprio nome nem escreve em nome de uma personagem
mitológica Cristã. Os Cristãos fundamentalistas clamam ser outra
epístola de S. Paulo e de facto chamam-lhe Epístola de S. Paulo aos
Hebreus. Esta ideia, aparentemente datando do final do quarto século
D.C., não é no entanto aceite por todos os Cristãos. Como fonte para
a sua informação sobre Jesus usa material comum ao Evangelho segundo
S. Marcos, ao Evangelho segundo S. Mateus e ao Evangelho segundo S.
Lucas, mas não fontes legítimas. O autor da Primeira Epístola de São
Clemente usou-o como fonte, e portanto deve ter sido escrita antes
dessa epístola (c. 125 D.C.) mas depois de, pelo menos, o Evangelho
segundo S. Marcos (c. 75 - 100 D.C.)
A Epístola de S. Tiago é
escrita no nome de um servo de Jesus chamado Tiago (ou Jacobus.) No
entanto, na mitologia Cristã havia dois apóstolos chamados Tiago e
Jesus também tinha um irmão chamado Tiago. Não é claro qual dos
Tiagos é o pretendido, e não há entendimento entre os próprios
Cristãos. Cita declarações da Segunda Fonte, mas ao contrário do
Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas não
atribui estas declarações a Jesus, mas apresenta-as como sendo de S.
Tiago. Contém um importante argumento contra a doutrina da "salvação
através da fé" exposta na Epístola de S. Paulo aos Romanos. Podemos
então concluir que foi escrita durante a primeira metade do segundo
século D.C., depois da Epístola aos Romanos mas antes do tempo em
que o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S. Lucas foi
aceite por todos os Cristãos. Assim, indiferentemente de qual seja o
S. Tiago pretendido, a Epístola de S. Tiago é pseudepigráfica. Não
diz quase nada de Jesus e não há evidência de que o autor tinha
quaisquer fontes históricas para ele.
Há três epístolas com o
nome do apóstolo S. João. Nenhuma delas é, de facto, escrita no nome
de S. João, e provavelmente só lhas foram atribuídas algum tempo
depois de terem sido escritas. A Primeira Epístola de S. João, tal
como a Epístola aos Hebreus, é completamente anónima. A ideia de que
foi escrita por S. João vem do facto de que usa o Evangelho segundo
S. João como fonte. As outras duas epístolas com o nome de S. João
foram escritas por um único autor que em vez de escrever em nome de
um apóstolo, escolheu simplesmente chamar-se "o Ancião". A ideia de
que estas duas epístolas foram escritas por S. João nasceu das
crenças de que "o Ancião" se referia a João, o Ancião, e que ele era
a mesma pessoa que o apóstolo S. João. No caso da Segunda Epístola
de S. João, esta crença foi reforçada pelo facto de que essa
epístola também usa o Evangelho segundo S. João como fonte. Podemos
então concluir que as primeiras duas epístolas atribuídas a S. João
foram escritas depois do Evangelho segundo S. João (c. 110 -120
D.C.) Consequentemente, nenhuma das três epístolas poderia ter sido
escrita pelo apóstolo S. João. Deve-se apontar que é bastante
possível que o pseudónimo "o Ancião" se refira à pessoa chamada
João, o Ancião, mas se tal assim é, ela não é certamente o apóstolo
S. João. As primeiras duas epístolas de S. João apenas usam o
Evangelho segundo S. João como fonte para Jesus; elas não usam
nenhumas fontes legítima. A Terceira Epístola de S. João menciona
"Cristo" escassamente e não há evidências de que tenha usado
qualquer fontes históricas para ele.
Além das epístolas com
o nome de S. João, o Novo Testamento também contém um livro
conhecido como Apocalipse do Apóstolo S. João. Este livro combina
duas formas de escrita religiosa, a da epístola e a do apocalipse
(apocalipses são trabalhos religiosos que são escritos na forma de
revelação acerca do futuro por uma personagem famosa do passado.
Estas revelações geralmente descrevem eventos infelizes que ocorrem
no tempo em que foram escritas, e também oferecem alguma esperança
ao leitor de que as coisas irão melhorar.) Não é certo por quantas
revisões passou o Apocalipse do Apóstolo S. João, e assim é difícil
datá-la precisamente. Dado que menciona as perseguições instigadas
por Nero, podemos dizer com certeza que não foi escrita antes de 64
D.C. Assim sendo, não poderia ter sido escrita pelo "verdadeiro S.
João". Os primeiros versos formam uma introdução que é claramente
entendida como não sendo de S. João, e que providencia uma vaga
admissão de que o livro é pseudepigráfico, apesar do autor sentir
que a sua mensagem é inspirada por Deus. O estilo de escrita e as
referências à prática de kriobolium (baptismo em sangue de ovelha)
sugerem que o autor era dessas pessoas de descendência Judaica que
misturavam o Judaísmo com práticas pagãs. Havia muitos destes
"Judeus pagãos" durante os tempos Romanos, e foram estas pessoas que
se tornaram nos primeiros convertidos aos Cristianismo,
estabeleceram as primeiras igrejas, e que foram provavelmente também
responsáveis pela introdução de mitos pagãos na história de Jesus
(eles são também lembrados pela sua crença ridícula de que "Adonai
Tzevaot" era o mesmo que o deus pagão "Sebazios".) As referências a
Jesus no livro são poucas e não há evidências de que são baseadas em
nada mais que crença.
Além das epístolas aceites no Novo
Testamento, e além das epístolas que são unanimemente reconhecidas
como não tendo qualquer valor (como a Epístola de Barnabas), existem
também várias epístolas que embora não aceites no Novo Testamento
são consideradas de valor por alguns Cristãos. Primeiramente, há as
epístolas com o nome de Clemente. Na lenda Cristã, S. Clemente foi o
terceiro na sucessão a S. Pedro como bispo de Roma. A Primeira
Epístola de S. Clemente aos Coríntios não é, de facto, escrita em
nome de Clemente, mas no nome da "Igreja de Deus que estadia em
Roma". Refere-se a uma perseguição que é geralmente pensada como
tendo ocorrido em 95 D.C., no reinado de Domiciano, e refere-se à
exoneração dos anciãos da Igreja de Corínto em c. 96 D.C. Os
Cristãos acreditam que S. Clemente foi bispo de Roma durante esta
altura, e esta é aparentemente a razão pela qual a epístola lhe foi
mais tarde atribuída. Os Cristãos fundamentalistas acreditam que a
epístola foi de facto escrita em 96 D.C. Esta data não é possível
dado que a epístola se refere a bispos e a padres como grupos
separados, uma divisão que não tinha ainda tomado lugar.
Considerações estilísticas mostram que foi escrita em c. 125 D.C.
Como referências, usa a Epístola aos Hebreus e a Primeira Epístola
de S. Paulo aos Coríntios, mas nenhuma legítima fonte histórica. A
Segunda Epístola de S. Clemente é de um autor diferente do primeiro
e foi escrita mais tarde. Podemos então concluir que também não foi
escrita por S. Clemente (não há evidências de que qualquer uma
destas epístolas tenham sido atribuídas a S. Clemente antes da sua
incorporação na colecção de livros conhecida como o Codex
Alexandrinus, no século quinto D.C.) Como fontes para Jesus, a
_Segunda Epístola de S. Clemente usa o Evangelho dos Egípcios, um
documento que é rejeitado até pelos mais fundamentalistas Cristãos,
e também os livros do Novo Testamento que mostramos serem de nenhum
valor. Assim, e uma vez mais, não temos nenhuma legítima evidência
de Jesus.
A seguir, temos as epístolas escritas no nome de
Inácio. De acordo com a lenda, St. Inácio era o bispo de Antioquia
que foi morto durante o reinado de Trajano c. 110 D.C. (apesar de
ele ser provavelmente baseado numa personagem histórica real, as
lendas acerca do seu martírio são largamente ficcionais..) Existem
quinze epístolas escritas no seu nome. Destas, oito são unanimemente
reconhecidas como sendo pseudepigráficas e de nenhum valor no que
respeita a Jesus. As restantes sete têm cada uma duas formas, uma
maior e outra mais pequena. As formas maiores são claramente edições
alteradas e revistas das formas mais pequenas. Os fundamentalistas
Cristãos clamam que as formas mais pequenas são as cartas genuínas
escritas por St. Inácio. A Epístola de St. Inácio aos Esmirnenses
menciona a tripla ordenação de bispos, padres e diáconos, que ainda
não tinha tido lugar aquando da morte de St. Inácio, que ocorreu o
mais tardar em 117 D.C,. e que provavelmente teve lugar c. 110 D.C.
Todas as sete pequenas epístolas atacam várias crenças Cristãs, hoje
consideradas heréticas, que só se tornou prevalecente c. 140 – 150
D.C. A Epístola de St. Inácio aos Romanos mais pequena contém uma
citação dos escritos de St. Ireneu, escrito depois de 170 D.C. e
publicada c. 185 D.C. Podemos então concluir que as sete epístolas
mais curtas são também pseudepigráficas. A Epístola de St. Inácio
aos Romanos mais curta foi certamente escrita depois de 170 D.C. (de
facto, se não foi escrita por St. Ireneu então foi provavelmente
escrita depois de c. 185 D.C.) e as outras seis foram escritas não
antes do período c. 140 – 150 D.C., se não mais tarde. Não há fontes
para Jesus nas epístolas de St. Inácio que não sejam os livros do
Novo Testamento e os escritos de St. Ireneu, que apenas usa o Novo
Testamento. Portanto, elas contêm nenhuma evidência legítima para
Jesus.
Há também mais duas epístolas que os Cristãos afirmam
serem cartas genuínas, a saber, a Epístola de S. Policarpo e o
Martírio de S. Policarpo. As epístolas de St. Inácio e as epístolas
que dizem respeito a S. Policarpo foram sempre estreitamente
associadas. É bastante possível que tenham todas sido escritas pelo
escritor Cristão St. Ireneu e seus discípulos. Houve certamente uma
primitiva personagem histórica real Cristã chamada Policarpo. Ele
foi bispo de Esmirna e foi morto pelos Romanos algures no período de
155 – 165 D.C. Quando St. Ireneu era um rapaz, conheceu S.
Policarpo. Fundamentalistas Cristãos afirmam que S. Policarpo era o
discípulo do apóstolo S. João. No entanto, mesmo que aceitemos a
lenda de que S. Policarpo tenha vivido até à idade de 86, ele não
poderia ter nascido antes de 67 D.C., e portanto não poderia ter
sido discípulo de S. João (é possível que tenha sido discípulo do
enigmático João, o Ansião.) Como St. Ireneu tinha conhecido S.
Policarpo, também assumiram que St. Ireneu era de facto seu
discípulo, uma pretensão para a qual não há evidências. A Epístola
de S. Policarpo usa a maior parte dos livros do Novo Testamento e as
epístolas de St. Inácio como referências, mas não usa fontes
legítimas para Jesus. Os Cristãos que rejeitam as epístolas de St.
Inácio mas que acreditam ser a Epístola de S. Policarpo uma carta
genuína afirmam que as referências às epístolas de Inácio são uma
inserção tardia. Esta ideia é baseada em inclinações pessoais, e não
em nenhuma evidência genuína. Baseada numa crença cega que a
epístola é uma carta genuína, alguns Cristãos datam-na de meados do
segundo século D.C., pouco antes da morte de S. Policarpo. No
entanto, as referências às epístolas de St. Inácio sugere que foi de
facto escrita algures durante as últimas décadas do segundo século
D.C., pelo menos cerca de uma década depois da morte de Policarpo,
se não mais tarde.
O Martírio de S. Policarpo é escrito em
nome da "Igreja de Deus que estadia em Esmirna". Começa na forma de
carta, mas o seu corpo principal é escrito na forma de uma história
vulgar. Fala-nos do conto do martírio de S. Policarpo. Tal como a
Epístola de S. Policarpo, foi escrita algures durante as últimas
décadas do segundo século D.C. Infelizmente, não existe evidência de
que tenha usado quaisquer fontes de confiança para a sua história,
apenas rumores e boatos. De facto, a história parece ser altamente
ficcional. As referências a Jesus não são tiradas de qualquer fonte
de confiança.
Assim, vimos que as epístolas usadas pelos
missionários como "evidências" são tão ilegítimas como os
evangelhos. Ainda assim, o leitor deve ter em atenção as traduções
fáceis de entender do Novo Testamento, dado que elas chamam ás
epístolas "cartas", e portanto implicando incorrectamente que elas
são na verdade cartas escritas pelas pessoas das quais levaram o
nome.
Agora, além dos livros do Novo Testamento, e além das
epístolas relativas a S. Clemente, St. Inácio e S. Policarpo, há
ainda mais um trabalho religioso Cristão que os Cristãos afirmam ser
uma evidência histórica de Jesus, a saber, os Ensinamentos dos Doze
Apóstolos, também conhecido como o Didache. Todos os outros
primitivos trabalhos religiosos Cristãos ou são totalmente
rejeitados pelos modernos Cristãos ou pelo menos reconhecidos como
não sendo fontes primárias no que respeita a Jesus. O Didache
começou como documento sectário Judeu, provavelmente escrito durante
o período de tumulto em c. 70 D.C. A sua forma primitiva consistia
em ensinamentos morais e predições da destruição da corrente ordem
mundial. Esta primeira versão, que obviamente não mencionava Jesus,
foi tomada pelos Cristãos, que o reviram e alteraram bastante,
adicionando uma história de Jesus e regras de culto para as
primeiras comunidades Cristãs. Os escolares estimam que a primeira
versão Cristã do Didache não poderia ter sido escrita muito depois
de 95 D.C. Provavelmente só chegou à sua forma final por volta c.
120 D.C. Parece ter servido uma comunidade Cristã isolada na Síria
como uma "Ordem da Igreja" durante o período c. 100 – 130 D.C. No
entanto, não há evidências de que a sua história de Jesus tenha sido
baseada em qualquer fonte de confiança, e como havemos mencionado, a
primitiva versão Judaica não tinha nada a haver com Jesus. De facto,
este documento providencia informação de que o mito de Jesus cresceu
gradualmente. Tal como o Evangelho segundo S. Marcos e as primeiras
versões do Evangelho segundo S. Mateus, a história de Jesus no
Didache não faz menção de um nascimento de uma virgem. Não faz
menção dos fantásticos milagres que foram mais tarde atribuídos a
Jesus. Apesar de Jesus ser referido como "filho" de Deus, parece que
este termo é usado simbolicamente. A evidência que temos em relação
à origem do mito da crucificação sugere que uma das coisas que levou
a este mito era o facto da cruz ser o símbolo astrológico do
Equinócio Vernal, que ocorre perto da Passagem, quando se acredita
que Jesus tenha sido morto. Assim, não é de surpreender que a
história no Didache não mencione Jesus a ser crucificado, apesar de
mencionar uma cruz no céu como símbolo de Jesus. Os doze apóstolos
mencionados no título do Didache não aparecem como doze reais
discípulos de Jesus, e o termo refere-se claramente aos doze filhos
de Jacob que representam as doze tribos de Israel. Assim, o Didache
providencia pistas vitais no que respeita ao crescimento do mito de
Jesus, mas certamente não providencia qualquer evidência de um Jesus
histórico.
Dado que nenhum dos textos religiosos Cristãos
providencia nenhuma evidência aceitável de Jesus, os missionários
voltam-se a seguir para textos não-Cristãos. Os Cristãos afirmam que
vários historiadores de confiança registaram informação acerca de
Jesus. Apesar de alguns destes historiadores serem mais ou menos
aceites, veremos que não eles não providenciam qualquer informação
acerca de Jesus.
Primeiramente, os Cristãos afirmam que o
historiador Judeu Flávio Josefo registou informações acerca de Jesus
no seu livro Antiguidades Judaicas (publicado c. 93 – 94 D.C.) É
verdade que este livro contém informações sobre os três falsos
Messias, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio, e é
verdade que a personagem de Jesus parece ser baseada em todos eles,
mas nenhum deles pode ser considerado como o Jesus histórico. Além
do mais, no livro dos Actos dos Apóstolos, estas pessoas são
mencionadas como sendo pessoas diferentes de Jesus, e assim o
Cristianismo moderno rejeita alguma relação entre eles e Jesus. Nas
edições Cristãs revistas das Antiguidades Judaicas, há duas
passagens que se referem a Jesus como está retractado nos trabalhos
religiosos Cristãos. Nenhuma destas passagens são encontradas na
versão original das Antiguidades Judaicas, que foi preservada pelos
Judeus. A primeira passagem (XVII,3,3) foi citada pela escrita de
Eusebius em c. 320 D.C., e portanto podemos concluir que foi
adicionada algures entre o tempo em que os Cristãos detiveram as
Antiguidades Judaicas e c. 320 D.C. Não é conhecido quando a outra
passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das passagens é baseada em
qualquer fonte de confiança. É fraudulento afirmar que estas
passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que elas providenciam
evidências para Jesus. Elas foram escritas por redactores Cristãos e
são baseadas puramente na crença Cristã.
A seguir, os
Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV,44, Tácito
descreve como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64
D.C. Ele menciona que o nome "Cristãos" era originário de uma pessoa
chamada Christus, que tinha sido executada por Pôncio Pilatos
durante o reinado de Tibério. É certamente verdade que o nome
"Cristãos" é derivado de Cristo ou Christus (= Messias), mas a
afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos durante o
reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos
próprios Cristãos e que apareciam nos Evangelho segundo S. Marcos,
Evangelho segundo S. Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, que já
tinham tido extensa circulação quando os Anais estavam a ser
escritos (os Anais foram publicados depois de 115 D.C. e não foram
certamente escritos antes de 110 D.C.) Portanto, embora os Anais
contenham uma frase na qual se fala de "Christus" como uma
verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e
crenças Cristãs, que são de nenhum valor histórico. É bastante
irónico que os modernos Cristãos usem Tácito para suportarem as suas
crenças dado que ele era o menos exacto de todos os historiadores
Romanos. Ele justifica o ódio aos Cristãos dizendo que eles cometiam
abominações. Além de "Christus", ele também fala de outros deuses
pagãos como se eles realmente existissem. O seu sumário da História
do Médio Oriente no seu livro Histórias é tão distorcido que é
ridículo. Podemos concluir que a sua única menção de Christus não
pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus
histórico.
Uma vez Tácito ser rejeitado, os Cristãos
afirmarão que uma das cartas de Plínio, o Jovem ao imperador Trajano
providencia evidências de um Jesus histórico (Cartas X,96.) Isto é
um disparate. A carta em questão simplesmente menciona que certos
Cristãos tinham maldito "Cristo" para evitarem serem castigados. Não
afirma que este Cristo realmente tenha existido. A carta em questão
foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 D.C., mas depois de
ele ser mandado para Bitínia em 111 D.C., provavelmente no ano 112
D.C. Assim, ela providencia nada mais que uma confirmação do facto
trivial de que à volta do começo da décima segunda década D.C. os
Cristãos normalmente não amaldiçoavam algo chamado "Cristo" apesar
de alguns o terem feito para evitarem o castigo. Não providencia
nenhuma evidência de um Jesus histórico.
Os Cristãos irão
também afirmar que Suetônio registou evidências de Jesus no seu
livro As Vidas dos Imperadores (também conhecido como Os doze
Césares.) A passagem em questão é Cláudio 25, onde menciona que o
imperador Cláudio expulsou os Judeus de Roma (aparentemente em 49
D.C.) porque eles causavam distúrbios contínuos instigados por um
certo Chrestus. Se assumirmos cegamente que "Chrestus" se refere a
Jesus, então, se é que, esta passagem contradiz a história Cristã de
Jesus dado que Jesus era suposto ter sido crucificado quando Pôncio
Pilatos era procurador (26 – 46 D.C.) durante o reinado de Tibério,
e além do mais, ele nunca foi suposto ter estado em Roma! Suetônio
viveu durante o período c. 75 – 150 D.C., e o seu livro, As Vidas
dos Imperadores, foi publicado durante o período 119 – 120 D.C.,
tendo sido escrito algum tempo depois da morte de Domiciano em 96
D.C. Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos 45
anos antes de ele ter escrito acerca disso, e assim não podemos ter
a certeza da sua exactidão. O nome Chrestus é derivado do Grego
Chrestos, que significa "o bom" e não é o mesmo que Christ ou
Christus que são derivados do Grego Christos, que significa "o
ungido/Messias". Se tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela
refere-se a uma pessoa chamada Chrestus que estava em Roma e que não
tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer outro "Cristo". O termo
Chrestos era bastantes aplicado para os deuses pagãos e muitas das
pessoas em Roma chamados "Judeus" eram na verdade pessoas que
misturavam crenças Judaicas com crenças pagãs e que não eram
necessariamente de descendência Judaica. Assim, é também possível
que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes "Judeus"
pagãos que adoravam um deus pagão (como Sebazios) de título
Chrestos. Por outro lado, as palavras Chrestos e Christos eram
muitas vezes confundidas, e assim a passagem poderia até referir-se
a algum conflito envolvendo Judeus que acreditavam que alguma pessoa
era o Messias, mas esta pessoa poderá ou poderá não ter estado
realmente em Roma, e por tudo o que sabemos, ele poderá não ter sido
uma verdadeira personagem histórica. Deve-se ter em memória que o
evento descrito teve lugar só alguns anos após a crucificação do
falso Messias Theudas em 44 D.C. e que a passagem pode-se referir
aos seus seguidores em Roma. Os Cristãos afirmam que a passagem se
refere a Jesus e aos conflitos que nasceram depois de S. Paulo ter
trazido notícias dele a Roma, e que Suetônio apenas se enganou
acerca do próprio Jesus ter estado em Roma. No entanto, esta
interpretação é baseada na crença cega em Jesus e nos mitos acerca
de S. Paulo e não há nada que sugira ser esta a correcta
interpretação. Assim, podemos concluir que Suetônio também falha em
providenciar qualquer evidência de um Jesus histórico.
Todos
os outros escritores que mencionam Jesus, desde S. Justino, o Mártir
no segundo século D.C. aos últimos intérpretes do mito Cristão no
século vinte, basearam todos as suas referências a Jesus nas fontes
que desacreditamos acima. Consequentemente, as suas pretensões são
de nenhum valor como evidências históricas. Ficamos então com a
conclusão que de que não há absolutamente nenhumas evidências
históricas de confiança e aceitáveis. Todas as referências a Jesus
são derivadas das crenças supersticiosas e mitos da primitiva
comunidade Cristã. A maioria destas crenças apenas apareceram após a
perseguição de Nero e a tragédia de 70 D.C. Muitas destas crenças
são baseadas nas lendas pagãs acerca dos deuses Tammuz, Osíris,
Attis, Dioniso e o deus sol Mithras. Outros mitos acerca de Jesus
parecem ser baseados em diferentes e variadas personagens históricas
tais como os criminosos condenados Yeishu ben Pandeira e ben Stada,
e os falsos Messias crucificados Yehuda, Theudas e Benjamim, mas
nenhuma destas pessoas pode ser considerada como um Jesus
histórico.
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